12.1.17

No tempo das fotografias

Sentia-se puxado para dentro das fotografias e, consoante a época, cada uma das imagens gerava em si sensações distintas. As fotos do início do século provocavam-lhe uma sensação de miséria, como se a fome lhe crescesse dos olhos. Pelos anos cinquenta, sentia já alguma capacidade de esperança, mesmo que toda a esperança o faça chorar. Nas fotos mais recentes, dos anos setenta, a sua empatia com aquelas ruas amplas e limpas permitiam-lhe respirar. Ainda assim, uma sensação qualquer de fim-de-semana isolado, de dia de visita ao belo construído, não uma vivência diária. Porque o dia-a-dia seria, com certeza, uma prisão. Uma prisão de onde lutaria para sair, apenas para se sentir mais preso a seguir. A fuga, no tempo das fotografias, não seria possível.